Festival Gastronômico de Jabuticaba de Sabará também é afetado pelo novo Covid-19

Cidade histórica conhecida como terra da jabuticaba acumula prejuízos, mesmo com eventos on-line

Festival Gastronômico de Jabuticaba de Sabará também é afetado pelo novo Covid-19. A cidade de Sabará, na Região Metropolitana de BH e a 15 quilômetros da capital, tem sua história tricentenária ligada à descoberta do ouro, em fins do século 17, quando ainda era conhecida como Sabarabuçu. Mas seu tesouro vai muito além dos imponentes casarões, chafarizes e igrejas que restaram como herança da época. Mas um dos principais atrativos, que arrasta ao município milhares de turistas durante todo o ano é a culinária, apresentada em diversos festivais gastronômicos. Porém, a pandemia do novo coronavírus mudou a rotina dos produtores, comerciantes e moradores, antes acostumados a ruas e vielas lotadas de visitantes.

Chamada de “Terra da Jabuticaba, ingrediente considerado patrimônio imaterial do município, Sabará tem na frutinha seu ouro negro. Na época da colheita, em novembro, a prefeitura promove uma festa que gera circulação de renda estimada em mais de R$ 5 milhões. São quatro dias de festival, realizado no Centro Histórico, com apresentações culturais para cerca de 130 mil pessoas que circulam no período. Mas este ano a realidade tende a ser bem diferente.

Portanto com a pandemia do novo coronavírus, o evento está cancelado e até o momento não há previsão de mudança nos planos. Segundo a secretária municipal de Turismo, Carmem Alves, a prefeitura estuda alternativas ao festival que costumava lotar a rede hoteleira. “Sabemos que o público não se limita às cidades vizinhas. O Festival da Jabuticaba é tão conhecido que recebemos turistas do Brasil inteiro e inclusive do exterior. Temos pratos premiados e chefs renomados, que destacam a fruta em suas receitas”, pontua Carmem. Segundo ela, a festa pode ocorrer de forma virtual. “O principal objetivo é não deixar os produtores desmotivados e incentivar as vendas on-line”, explica.

Mas a notícia não é boa para quem depende dos turistas para ganhar, como é o caso do lavador de carros Luís Henrique Barros, de 25 anos, que na época da colheita aluga as 12 jabuticabeiras que tem no seu quintal. Ele conta que a atividade chegava a render R$ 2 mil nos dias da festa. “Quem aluga os pés come à vontade e ainda pode levar para casa. E eu vendo as frutas em carrinhos de mão pela cidade”, conta.

Com produção familiar, Dirleia Peixoto, de 68, produz derivados da jabuticaba que vende em sua varanda. Além da tradicional geleia, faz licor, vinho, cachaça, uísque, amarucaba, compotas e chutney, tudo com base na fruta. “A gente espera o ano inteiro, ansiosos, o festival. O faturamento é bom, consigo em quatro dias o equivalente a três meses de vendas”, conta. Mas ela diz que o cancelamento não vai fazer a produção parar. “Claro que temos medo de ficar com os produtos parados, mas temos que ser otimistas.

Outra estrela do cardápio sabarense é o Festival do Ora-pro-nóbis, em Pompéu, Distrito de Sabará. Realizado tradicionalmente em maio, este ano a festa não ocorreu, devido à pandemia de COVID-19.O evento tem como base de todas as receitas a hortaliça que se encontra com facilidade na região.

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Festival Gastronômico de Jabuticaba de Sabará também é afetado pelo novo Covid-19. A chef Gláucia Melo, de 42, é proprietária de um bistrô e recebeu convite para participar após o sucesso de uma criação: o brigadeiro salgado de ora-pro-nóbis – um bolinho da verdura, recheado com costelinha desfiada e queijo. “Em janeiro, com as fortes chuvas, tive o bistrô alagado e, naquele momento, imaginava que o lucro do festival me daria a oportunidade de reformar o restaurante, porque o faturamento no evento é alto. Esperava ansiosa para conseguir manter o restaurante”, ressalta a chef, que continua servindo seus pratos por tele-entregas. 

Outro distrito que se beneficia da gastronomia local é Ravena, com a Festa da Banana. São três dias de evento na Praça Nossa Senhora da Assunção, com música ao vivo, exposição de produtos elaborados com a fruta e artesanato confeccionado na região, feito com palha de bananeira. Além de fomentar o comércio local, a festa consolida a tradição de mais de 130 anos de cultivo da fruta na região.

Margarida Aparecida Laurindo, de 56, é produtora artesanal de cachaça, licor, conserva de umbigo de banana e outros derivados da fruta. Com toda a fabricação e venda em casa, na última edição do festival ela ganhou destaque com a invenção do doce “beijinho de banana”. “Ano passado foi muito bom, e estávamos planejando algo ainda melhor para agora. Infelizmente, o coronavírus nos impediu. Estamos divulgando os produtos nas redes sociais, mas não é a mesma coisa”, lamenta Aparecida.

Então o secretário de Cultura de Sabará, André Alves, explica que, apesar de os eventos não ocorrerem da forma tradicional, a prefeitura os realizará virtualmente. Atualmente, o município promove o Festival de Sabará – Arte de Casa, com galerias de mostras virtuais e apresentações artísticas feitas por lives. “Os artistas estão desde março parados, devido à pandemia. Dar a eles a oportunidade de se apresentarem, mesmo que virtualmente, é uma forma de motivar a classe e renovar as esperanças de dias melhores”, ressalta o secretário.

Ele diz que a arrecadação do município caiu no período, puxada pela situação econômica. “Isso se refletiu na organização dos eventos. Não teríamos condições de arcar com os custos desses artistas. Tivemos dificuldades até de captação de patrocínio. Tudo está sendo feito cooperativamente”, explica.

O primeiro impacto causado na cidade pela pandemia foi o cancelamento das atrações da Semana Santa. “É muito tradicional, envolve toda a comunidade religiosa e artística de vários segmentos: artes plásticas, cenografia, costureiras, artes cênicas e música. Além de os eventos representarem uma renda extra para os moradores. Então naquele momento, havia a esperança de que a situação duraria pouco. Infelizmente, não se concretizou.”